se é pra ter coragem.

gosto muito de observar as pessoas. tenho essa ideia de que pessoas são como livros inacabados e sempre fico muito curiosa para saber quais foram os capítulos anteriores e o que estão escrevendo neste momento. também me interesso muito sobre o que gostariam de escrever no futuro.

enquanto leio as pessoas por aí, tenho percebido algumas coisas muito interessantes. a primeira delas é que, tem algumas que se acham o melhor livro já escrito e tem outros que se escondem na prateleira por acharem que não tem nada demais a oferecer. no geral, os dois colidem e o da prateleira nunca tem muito espaço para escrever nas próprias páginas e acaba por se preencher com histórias alheias.

a segunda coisa, é que parece que todo mundo está sempre se esquivando de alguma coisa. até mesmo os que são super convencidos de suas histórias maravilhosas. parece que todo mundo já se ralou muito e colocou merthiolate e, agora quando estão no parquinho, usam de todos os artifícios e técnicas possíveis para evitar eventuais quedas, arranhões ou qualquer ferida. vamos na gangorra, mas não pule quando estiver no alto. vamos no balanço, mas não muito rápido - e se estiver muito rápido, finque os pés no chão para frear bruscamente. no escorregador, desce devagar, segurando nas laterais.

é até um pouco cômico observar. ora, como se quer estar no parquinho e achar que é possível prever todos os riscos, milimetricamente calculado? e falo isso até por mim mesma. parece bastante óbvio que estar exposta significa, obrigatoriamente, estar em risco. e exige uma determinação e imaginação gigantesca para prevenir todos eles.

a terceira coisa que tenho observado, e acredito que tenha concluído sobre as pessoas, é que estão todos com medo e um pouco cansados de cair, mas nenhum se recorda ou se atenta ao fato de que, desde muito pequenininhos, tiveram coragem o suficiente para levantar e remendar-se. cicatrizes aqui e ali, mas nenhuma delas matou.

é engraçado porque tem toda uma imagem de fachada de empoderamento, de segurança, de certeza e ai daquele que duvidar dessa imagem. mas, olhando de perto, ninguém realmente acredita na própria coragem. e é nessa que acabam por derrubar uns aos outros, por remendar-se com substancias. é uma batalha invencível evitar o inevitável. ninguém quer sofrer, mas é impossível não sofrer.

e não seria a tentativa de não sofrer o verdadeiro sofrimento?

sei lá.

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