A Necessidade de Ser Extraordinária [Pt II]

[...] Onde eu poderia arranjar uma caixa maior e mais resistente?

E foi naquele exato momento, encarando a caixa e tentando encontrar uma solução para resolver aquele problema, que alguém soprou ao meu ouvido um questionamento, bastante bobo e óbvio, que ecoou repetidas vezes: você deseja consertar a caixa?

Fotografia de um livro de fotografia feita por uma não fotógrafa (é, eu mesma)

Eu fiquei obcecada por essa pergunta. Passei dias e dias tentando encontrar uma resposta com justificativas perfeitas que fossem agradáveis para quem me perguntou. Refutei e briguei internamente, mandei calar a boca quem gritava um estrondoso e sonoro não.

Veja, é bastante bobo quando te perguntam se você quer ou não um chocolate - porque, duh, basta você querer ou não. Literalmente. Mas em algum momento, comecei a tentar sempre adivinhar o que deixaria quem-quer-que-estivesse-me-oferecendo-o-que-quer-que-fosse, satisfeito e feliz com a minha resposta. Pouco importa se eu gosto ou não de chocolate, mas se eu disser que sim, ele vai ficar mais feliz e ou se eu disser que não, ele vai se deliciar sozinho.

Dai tudo bem, a interpretação medonha de ser alguma super-heroína com poderes de premeditar e ler a mente de absolutamente todo mundo que me cercava foi legal por um tempo. Também não vou mentir que me rendeu uns espaços sociais aí, mas como dizem na internet: eu não sustentei a personagem.

Pense você no porre que é viajar com alguém que anda com um roteiro cheio de post-its e horários. Daí no meio do caminho, você encontra uma sorveteria incrível que tem o melhor cheiro do mundo e, quando vocês estão quase entrando, a pessoa te puxa pelo braço e aponta para o roteiro: a sorveteria não está ali nas anotações. E não é como se ela também não estivesse lambendo os lábios e imaginando que gosto teria o sorvete dali, mas o roteiro perfeito não planejou aquilo.

É, basicamente esse porre de pessoa fui eu por vários meses - muito provavelmente, anos - e quando eu derrubei a caixa - tá, sejamos sinceros: quando me empurraram e fizeram com que eu derrubasse - e dessa vez eu não tratei de remendar rápido - porque também vamos admitir que essa não foi a primeira vez que deu uma arranhada né?

Dessa vez eu aceitei que dava muito trabalho arrumar, eu sabia que tinha como consertar, mas observando com cuidado eu percebi que eu não estava afim. Eu não desejava. Aquele personagem que todo mundo gostava pela incrível capacidade de agradar (ou pelo menos tentar) era chato.

Em 2017 eu também tinha dado uma boa arranhada na caixa, mas fingi que não era lá grandes coisas e tratei de consertar rapidinho. Achei essa foto no meu Instagram.

Eu não quero que ninguém derrube a sua caixa porque vou te dizer, é horroroso, dói, pesa e é estranho sentir que não precisa carregar. Mas, posso te contar uma coisa? Dá até um pouco de vergonha de admitir, mas extraordinário mesmo é entrar na sorveteria pelo menos um pouquinho, só pra saber como é que é.

Espero compartilhar meus sabores favoritos com você.

Beijos,

Querida Asquini.

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