A Necessidade de Ser Extraordinária [Pt I]

Olá, quanto tempo faz desde que nos falamos pela última vez, não é mesmo?


Posso dizer que do lado de cá que senti falta de me sentar em frente ao computador e pensar na melhor forma de redigir o turbilhão de coisas que passam na minha cabeça, mas devo confessar que esse tempo ausente se fez extremamente necessário para eu conseguir enxergar algumas coisas - que certamente não vão caber nesse primeiro texto.


Desde muito novinha eu gostava de aprender sobre muitas coisas - entusiasta de biológicas, amante de humanas e uma curiosa, porém frustrada pelas exatas. Também sempre fui apaixonada por artes, me arrisquei no teatro, dedilhei no violão e soltei a garganta por aí.

Confesso que ainda não sei exatamente porquê (talvez com bastante influência do capitalismo), mas quando se é adulto, parece que você não pode simplesmente ser curioso por algo, você precisa ser bom naquilo e, por consequência, aquilo precisa te elevar de alguma forma. Em algum momento muito específico, o que antes era só uma vontade de aprender, vira um símbolo de obsessão por excelência.

Como assim você não quer ser a melhor aluna da turma? Como ousas não competir para ser a melhor dançarina? A mais flexível? A mais expressiva? A mais talentosa? Como ousas querer ser mediana?
Sabe a prima da sua prima que não tem absolutamente nada a ver com você? Pois então, ela entrou na melhor companhia de dança quando tinha a sua idade, sabe?

Daí, com os comentários, comparações e tempo certo, cria-se pessoas obcecadas por sucesso. Basta ter um pouquinho de paciência e pronto, ela vai se questionar até se o ovo frito dela é o melhor que você já comeu - porque tudo, absolutamente tudo precisa ser o melhor. Extraordinário.

Por muito tempo, eu me sentia completa e boa o suficiente ao saber que todos a minha volta me achavam muito eficaz - tipo um robozinho, sabe? Check em tudo que as pessoas almejam, uma personificação do que vemos no Instagram - e não pense você que eu consegui romper completamente com esse ciclo, mas eu o percebi.

Deu certo colocar todas as minhas caixinhas dentro dessa caixona: energia, tempo, espiritualidade, sonhos, etc. Consegui fazer caber tudo lá dentro e consegui carregar. Ufa!
E claro que por um tempo eu me senti muito bem: importante, com bastante status social, muito inteligente, forte e impressionante. Para ser sincera, eu me sentia extraordinária. Eu era a melhor naquilo que eu estava fazendo e estava virando referência para algumas pessoas com vinte e poucos anos? Parece brincadeira. Uau!

Até que eu não era mais extraordinária o suficiente. Precisava de mais um pouquinho de tempo e ai sim, eu seria extraordinária de novo. Dai tentei de novo e, quando consegui, na verdade estava faltando mais uma coisinha, mas eu estava quase chegando lá.

Num lapso de exaustão de carregar essa caixa pesadona, eu larguei no chão. Daí, pensa você na bagunça que foi: o tempo foi para um lado, os sonhos foram para o outro, a espiritualidade se escondeu e a energia tirou férias, sem contar todo o resto que foi se esparramando no chão.

Fiquei ali, estática, olhando para a minha caixa extraordinária toda quebrada, toda bagunçada. A caixa que eu construí a minha vida inteira se quebrou em pouquíssimo tempo. Parecia impossível consertá-la, quem dirá recuperar todas as caixinhas - onde eu poderia colocá-las agora que a grandona tinha espatifado? Onde eu poderia arranjar uma caixa maior e mais resistente?

[continua no próximo post...]

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