com sabor de fruta mordida.

eu tinha dezessete anos quando comecei a estudar fotografia. talvez as teorias e conceitos da física nas aulas da escola tenham sido a única matéria dessa disciplina nas quais eu, efetivamente, prestei atenção. quando fiz um curso sobre o tema, devia ter uns vinte anos e, desde então, entendi que eu gosto de registrar momentos em que a iluminação captada pelas lentes mostre contrastes impactantes. fechos de luz, pretos e brancos marcados, sombras realçadas pelo excesso de luz vinda do sentido oposto.

talvez seja uma boa forma de ilustrar como eu te vejo há algum tempo. o guarda-roupas composto por uma quantidade obscena de peças pretas, as botas desgastadas, o cabelo escuro, os cílios longos e a sobrancelha preenchida são complementarmente opostos ao seu jeito doce, meigo, gentil e maliciosamente ingênuo que flui tão naturalmente de você. às vezes eu acho que você nem percebe.

é comicamente inquietante a quantidade de risadinhas seguidas da confissão "não entendi" vinda de alguém que prestou tanta atenção em detalhes meus que nem eu mesma me dava conta que estavam ali (e que soltei em conversas despretensiosamente convincentes). atentamente distraída, eu diria. na versão moderna de revelar as fotos (ou apenas transferir de um dispositivo obsoleto para um não-tão-obsoleto assim), percebo que num susto apertando efusiva e timidamente o botão de uma câmera outrora esquecida na gaveta, traduzi em imagem o que tentei escrever.

antônimos e pleonasmos ficam redundantemente significativos com você.

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