agora, apresente-se

querido raio de sol,

acredito que leituras são demasiadamente particulares. eu interpreto de acordo com o meu repertório e a minha realidade - e você faz o mesmo. é por isso que eu acho tão legal a ideia de que as pessoas podem ler um livro e algumas amarem, outras odiarem, outras ficarem confusas, mas a melhor sensação é que você nunca sai o mesmo depois de uma leitura.

quando nessa mesma época, um ano atrás, eu me debruçava frente à tela de computador, não tinha ideia do impacto que um simples texto, redigido com carinho, pudesse causar. veja, é bastante contraditório com o que eu acabei de escrever, mas acho que a vida é meio que um compilado de momentos contraditórios.

enquanto escrevia, também pensava sobre um livro rígido, capa dura, gramatura grossa de papel. um livro robusto, mas que, ao abrir, continha até algumas ilustrações. veja você, um livro adulto, grosseiro e quando abre tem desenhos? decepcionantemente apaixonante! - era assim que imaginava as pessoas convivendo com você. a cada página uma nova curiosidade, uma leitura leve, mesmo com aparência de rigidez.

acontece que, às vezes, seja lá qual for o motivo, até mesmo os nossos livros favoritos voltam para estante; mesmo que a leitura destes sejam deliciosas, reconfortantes e familiares. quando colocamos a nossa leitura favorita de volta na estante, somos preenchidos por uma sensação agridoce - felizes de ler novamente, tristes por ter terminado mais uma vez. não tem nada de errado com o livro, muito menos com o leitor, é só o momento literário.

penso que os livros também tem seus leitores favoritos - aqueles que os leem com cuidado, que fazem anotações da leitura, que por vezes leem as palavras em voz alta e fazem expressões faciais diversas enquanto leem. "finalmente alguém que aproveita e se deleita!" - é o que eles diriam, se pudessem falar.

e a dinâmica "meu livro favorito" e "meu leitor favorito" funciona muito bem desde que nenhuma das partes não se camufle no favoritismo ou na gula de não dividi-lo com o mundo. ora, para que vou permitir outros leitores se esse aqui suporta até meus erros gramaticais? por que eu trocaria de livro se eu já conheço essa história? pra que precisaria de um novo leitor?

bom, aqui retomo meu pensamento inicial: você nunca sai o mesmo depois de uma leitura.

quando li crepúsculo aos treze anos, eu definitivamente era Team Edward, mas uma simpatizante Team Jacob - aqui você tem licença poética para piadas sobre sempre ter sido "em cima do muro". foi só quando eu li outros livros que consegui entender que o Edward precisava de terapia e de uma boa chave de perna, o Jacob era um gostoso sem autoestima alguma, e a autora, bom, essa precisava de bastante análise que eu nem sei por onde começar.

divagando um pouco, eu só consegui ter novas visões com o passar do tempo, lendo outros livros e debatendo com outros leitores. caso contrário, arrisco dizer que continuaria com a narrativa viciada que eu queria namorar um Edward e bem, sabemos que ele não é muito bom partido, né?

eu era daquelas que acreditava fielmente que não deveria emprestar nenhum livro. eles eram de minha posse e eram muito pessoais. mas que injusto deixá-los acumulando poeira na estante até eu resolver lê-los novamente, não é? acho que no fundo, eu também tinha medo que outras pessoas vissem os erros gramaticais que eu vi ou que não achassem o livro nada demais e não entendiam porque eu o adorava. acho que no fundo, eu tinha medo que me entendessem pelas minhas leituras e me condenassem por elas.

mas além de não permitir que os outros conheçam sua biblioteca, dói mais alterar de papel e, de leitora favorita, passei a ser o livro na estante, aguardando meu momento de brilhar novamente. juntou-se pó, muita sujeira e nada de ser lida novamente - e sei que muitas vezes, você também se sentiu assim.

eu, cansada de esperar por aquele leitor favorito, pensei ser justo para este livro, permitir que outros leitores conhecessem a história. hoje penso que tudo bem permitir que outras pessoas vejam minha biblioteca, que tenham suas conclusões, que me devolvam os livros com algumas marquinhas novas e dividindo comigo suas interpretações, porque você nunca sai o mesmo depois de uma leitura, e é justo que eu não controle a leitura de ninguém, certo?

e acredito que, de certa forma, ano passado foi quase uma premonição - ou uma maldição, dependendo do seu ponto de vista - que você acatou e transformou em um mantra. desde então, surgiram novos leitores, alguns machucados e rasguinhos nas páginas, e outras anotações grifadas como importante, mas acima de tudo, você entendeu a importância de dividir e disseminar esse livro.

sou ridiculamente feliz por teu incentivo em permitir que uma nova leitora me visse mais do um livro e você absorveu tudo, ficando na estante apenas tempo o suficiente para entender que estava na hora de compartilhar novas histórias.

com amor,

Larissa.

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