O Barulho Na Minha Cabeça Te Incomoda?


Tinha uma época que eu vivia com coração partido e o amor (romântico) não era um grande amigo meu. Foi justamente nessa mesma época que eu comecei a prestar mais atenção em letras de música e em como elas eram compostas - harmonias e alguns detalhes não óbvios.
Quando resolvi ler essa biografia, sabia que se tratava de um dos maiores nomes do rock mundial, líder de uma das bandas mais importantes do mundo, um andrógino tão viciado em sexo quanto em drogas.


Intitulado "O Barulho na Minha Cabeça Te Incomoda?", o livro não poderia ser mais auto-explicativo, uma vez que a narrativa não segue nenhuma ordem de cronologia e, por muitas vezes, as histórias se atropelam e fica confuso acompanhar a linha de raciocínio hiperativa do cantor.

Uma das partes mais curiosas para qualquer fã de música é saber um pouco mais do contexto em que as canções foram compostas: os recursos disponíveis, as inspirações para letras, as referências para a melodia, etc. Acredito que essa foi a minha parte favorita, muito além saber com quantas mulheres Steven Tyler já transou ou o quanto de droga ele já consumiu (ambos impossíveis de saber), é interessante saber como o Aerosmith realmente nasceu, como se mantiveram e se mantém por tantos anos.


É curioso saber como uma lenda viva do rock se comporta atualmente e, minha nossa, como é difícil conseguir contextualizar as histórias e pensamentos. Falo isso porque, por ser tão interessada por movimentos sociais, em vários momentos Tyler reproduz discursos machistas - do tipo "claro que eu posso trair minha mulher porque sou homem e viciado em sexo, mas ela nunca pode me trair", entre outros fatores e por muitos momentos tive que me lembrar que o homem já tem setenta anos - e veja bem, não estou afagando o ego ou "passando pano", mas esse é uma linha que sempre tento seguir, afinal, tenho cinquenta anos de diferença histórica e social de uma figura como Steven.

Além de todas as polêmicas narradas com uma quantidade generosa de detalhes, Tyler se expõe verdadeiramente no livro recheado de palavrões, contando suas frustrações matrimoniais, a distância de convivência com seus filhos, o constante problema com abuso de todas as substâncias possíveis, as dores crônicas que sofre em várias partes do corpo, as experiências na estrada, entre muitas outras coisas.


O livro me deixou completamente viciada em Aerosmith e ainda mais interessada na moda dos anos 1970. É muito engraçado como agora escuto as músicas lembrando dos processos criativos envolvidos e, ao final da leitura, pude constatar o quanto a indústria glorifica os abusos - de todos os tipos - o sofrimento, a depressão, a solidão, os excessos: para ser um grande músico você tem que ser fodido da cabeça?

O barulho na cabeça de Steven justifica o apelido de demônio dos gritos, o fato de "o cara parecer com uma mulher", o buraco constante no coração e a incessante esperança de continuar sonhando.

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