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Larissa Honorato

deitada no chão, sentia a angústia me engolir viva, como se fosse um buraco negro que puxava para si com força qualquer faísca de bons sentimentos que ameaçam enevoar minha cabeça.

havia alguns meses que eu não o via pessoalmente. aliás, há algumas semanas não conversávamos como antes. as longas noites em claro, as mensagens incessantes e os inúmeros assuntos em comum deram espaço para conversas superficiais e um pisar-de-ovos que me parecia ridiculamente estranho. costumávamos ser melhores amigos e até o silêncio nos era confortável, mas tornou-se o que eu mais temia, tornou-se o mais clichê das obviedades humanas. o silêncio virou sinônimo de vazio.

observadora, eu assistia todos os movimentos e mudanças. o cabelo dele, às vezes por fazer, a barba comprida, o sorriso mais branco e mais tímido também, mesmo quando se esforçava com quantidades, imagino eu, de altas dosagens alcoólicas. por um tempo, eu resolvi permanecer exatamente no mesmo lugar que estava antes, já há alguns meses, e assisti todas suas decisões com uma esperança tão intrínseca e tão igualmente masoquista de que, em algum momento, ele iria me escolher. e incessantes vezes ele escolheu a si mesmo, enquanto eu continuava disponível com algo dentro do peito que eu, ainda, não sabia identificar ao certo o que era.

diversos episódios de raiva e tristeza que fui guardando comigo como sempre aprendi a fazer, como se fosse minha responsabilidade unicamente lidar com aquilo. inconscientemente, como se eu estivesse constantemente em uma prova de resistência em que eu era o torturador e também a vítima num paradoxo que deixa lacan orgulhoso toda sessão.

e quanto mais raiva e tristeza eu sentia, mais diferente ele ficava aos meus olhos. de repente ficou bobo, fútil, estranho. como pode assim do nada deixar de conhecer alguém? quão rápido uma pessoa que ficou ali por tantos anos pode sair?

e eu já tinha passado por aquilo antes. foi ela, a garota que era o desejo dos meus amigos, a quem guardei e protegi todos os segredos e me deixou sozinha quando perdi minha vó. foi ela, minha amiga que jurou estar ao meu lado em todos os momentos e que faltou no meu aniversário quando meu pai estava na uti para aliviar o estresse com outros amigos. tiveram outros também até que, por fim, foi ele, que depois do furacão de dois anos isolado e quase-mortes, que sempre dizia preferir o equilíbrio, escolheu pelo desequilíbrio para estar todos os dias baladas cheias.


então, o que estava diferente dessa vez? por que eu continuava com a sensação frustrante de continuar em desvantagem?

"mas existe diferença entre tristeza e mágoa". uma frase tão simples quanto beber água, mas uma vez com sede, parece o mais divino dos líquidos.

o problema da mágoa é que você a carrega sozinha. é possível partilhar e compreender outros sentimentos em conjunto, mas a mágoa é muito pessoal. e ela fica ali sendo remoída, remexida, revirada e alimentada toda vez que algo vem a tona. e a mágoa vira rancor.

pensei que daria para aguentar mais essa e guardar junto com todas as outras, mas de alguma coisa tem que servir aprender sobre lixos e gavetas bagunçadas. de algo há de servir ouvir sobre lacan, jung e freud. já não eram meus aqueles cacarecos e, por mais que eu havia tentado devolvê-los, em todos os momentos foi me dito que ele também não queria aquele lixo, mas porque ele não os jogava fora? por que ainda continuava em minha mãos?

o nó preso na garganta me impediu de gritar tantas vezes, mas tenho conseguido desatar. e dessa vez, pela primeira vez, eu reuni todos os lixos e não me dei ao trabalho de etiquetá-los, colocá-los em sacolas e dar pronto para somente colocar no lixo. dessa vez eu apenas os reuni, de forma bastante educada, mas eu os entreguei para o dono. agradeci pelo empréstimo, mas lixo é lixo, e eu não precisava guardá-lo comigo.

quando o fiz, pela primeira vez disse que não os queria de volta e que ele precisaria lidar com eles. que eu não merecia toda aquela sujeira, mas que ela tinha que ser limpa por alguém e aquele alguém, não era eu, não mais. e ele pegou o lixo de volta com uma certa relutância. disse "desculpa, mas é que eu nunca quis sujar nada de propósito". e eu sabia disso, mas ainda que não se suje nada de propósito, ainda sujou e não sou eu que devo limpar apenas porque não foi de propósito.

exausta da mesma discussão sobre a sujeira, expliquei tudo isso e ele pegou o lixo de volta. dessa vez, pela primeira vez, manteve-se apenas no substantivo. "desculpa". já não me importava a conjunção e nem nunca deveria ter me importado. tudo que precisa às vezes é se ater ao simples, à palavra única, à sujeira. eu não precisava do mas. se foi de propósito ou não, não me importava, me importava lidar apenas com a minha sujeira.

e a exclusão da conjunção me trouxe um alívio tão imediato que senti que o buraco negro deu lugar a uma supernova.
e finalmente, fico feliz em te imaginar feliz porque finalmente acho que merece e que não me deve nada. tudo foi pago na desculpa, mas sem o mas.
setembro 13, 2022 No comentários

querido raio de sol, 

primeiramente, permita-me ter a licença poética - e bastante brega, talvez - de traduzir para português o apelido que acredito ter sido criado por mim, há bons anos, para me referir a você. ele foi baseado no seu sobrenome e espero que esteja esboçando um sorriso desde o começo dessa carta - que te encontre bem.

pensei por horas e horas como poderia começar a te presentear e, sim, consegui alguns itens materiais que vão ser entregues a ti porque você merece, fique tranquilo, mas além deles, eu queria te oferecer algo que fosse unicamente sobre nossa amizade e, bem, obviamente sobre você.

pensei, pesquisei, olhei referências até que tive uma ajudinha sua com um ímpeto de que, o melhor que eu posso oferecer é me debulhar em palavras. e resolvi registrá-las aqui, já que como bom amigo que você é, talvez seja o único leitor assíduo desse falido blog que virou um portal de lembranças.

então, cá estou com uma xícara de café coado bebericando uma porção de nostalgia enquanto penso em você, amigo, então me permita dizer algumas coisas.

quando te conheci, há um bocado de anos, tive a rara oportunidade de ir além da capa do livro que era oferecido a todos: levemente bad boy, humor ácido, mau humorado, irônico e bastante esquentadinho. confesso que seria mais fácil ter me prendido à imagem de que você era só o garoto que namorou uma garota que eu conhecia bastante e era esquentadinho o suficiente para ouvir metal e quebrar janelas por aí, mas você sabe que eu não brinco no raso e você também não.

desde lá, quando você era um furtivo com franja que lhe caía sobre os olhos e escondia metade do seu rosto e eu, uma garota magrela com cabelos alisados e insegura, nós encontramos nossas similaridades. primeiramente música, problemas escolares, amizades, depois corações partidos. com o tempo, você já não fazia mais tanta questão de ficar somente no humor ácido que, aos poucos, vieram acompanhados de abraços que cobriam minha cabeça e sorrisos largos dizendo que tudo era brincadeira.

mais tarde, nossas conversas se iniciavam sempre com um apelido breve, simples, mas bem carinhoso. moça. e falávamos sobre os próximos shows, festivais, sobre pé-na-bunda e possíveis novos romances. e tirava sarro de mim como se eu fosse sua irmã e eu cutucava a onça com vara curta como só eu sei fazer, o que rendia uma porção de caretas e dedos do meio estendidos, dos dois lados.

em nossa essência, talvez não tenha mudado tanta coisa, mas as abordagens hoje são benefícios de usar cartão de crédito, como compras no mercado são caras e como lidar com as inseguranças mais profundas. continuamos conseguindo conversar sobre qualquer tópico, mas eu consigo ver que, agora, aos poucos você tem conseguido deixar que as pessoas leiam o livro além da capa, como eu também fiz.



o problema de termos capas tão bonitas e bem feitas, é que no fundo, a gente tem medo que não gostem tanto do conteúdo do livro. imagina só, julgarem a obra apenas pela capa, exatamente como você fez tantas outras vezes? imagina só, perceberem que não foram injustos com você? ou, olha que coisa, talvez descobrirem que o livro é muito mais legal do que a capa?

o problema de não gostar de brincar no raso, é que brincando no fundo, dá um pouco de medo de não dar pé, de afogar, de faltar ar, de cansar e até de faltar um pouco de luz porquê, vai que o sol não chega lá. mas é aí que mora a graça do seu apelido. quem carrega em si raio de sol, não fica no escuro por muito tempo, não é?

posso dizer, por experiência própria, que você não deixa o escuro perdurar. quando eu resolvi que precisava mergulhar no fundo, onde ficava um pouco mais difícil enxergar, você não se importou de me ajudar a voltar pra superfície para respirar um pouco. e é isso que talvez eu sempre tenha enxergado em você, por trás de toda capa dura e bem formatada.

sempre esteve contigo a capacidade de fazer as pessoas rirem com tanta vontade a ponto da cabeça tombar para trás e emitirem sons estranhos no meio da gargalhada. também sempre esteve contigo os braços longos e esguios capazes de fazer a gente sentir que é capaz de aguentar qualquer coisa, até enfrentar apocalipse zumbi - que você adora falar que correria mais rápido que todo mundo e deixaria todo mundo pra trás, mas nós dois sabemos que é a maior mentira já contada. você mataria todos eles dando alguma equação impossível de ser resolvida e daria tempo de todo mundo fugir.

é bonito poder assistir à coragem dos outros. daqui te vejo corajoso, mesmo com medo de cansar, você quer mergulhar fundo porque sabe que é o único jeito de conseguir se livrar das amarras e desencalhar. daqui, continuo te vendo e admirando cada mergulho. espero que permita que mais pessoas mergulhem junto com você porque tua atlantis é um reino incrível - não seria eu, sem uma analogia à animações.

não posso garantir que todos gostarão do livro, mas posso garantir que vale a pena permitir que mais gente leia. não decida se as pessoas vão gostar ou não da história, mas permita que elas leiam e decidam. o livro não vai ser menos interessante se alguém não gostar - e se não gostar, devo dizer que tem um péssimo gosto literário, diga-se de passagem.

estarei aqui para ler cada página e para ajudar em cada mergulho. obrigada por me permitir ir além da capa e por sair do raso.

feliz aniversário. te amo.

com amor,

moça.

setembro 12, 2022 No comentários

Alguns segundos de uma voz agitada num aplicativo de mensagens "oi, desculpa a demora pra responder, esqueci mais uma vez, achei que...".

Me esqueceu, mais uma vez. Pauso a mensagem e escuto novamente. Fazer isso é um pouco masoquista porque te ouvir falar essa palavra me machuca, me frusta, mas eu acho que sempre aprendi a sentir prazer na dor, talvez amar seja um pouco isso. Ouço novamente "esqueci". Esquecer.

Já faz algum tempo que acho que você se esqueceu de mim. Teve aquela vez quando fiquei doente e te pedi um chocolate e você ficou frustrado estava sendo muito carente. Quando te perguntei se queria ir para algum lugar almoçar e escolheu a mesma balada pela décima vez. Ou aquela vez quando disse que não via sentido em postar fotos comigo porque não era assim que demonstrava seu amor por mim, mas foi assim que demonstrou seu carinho por uma desconhecida.

E eu assisti o esquecimento. Uma, duas, dez, inúmeras vezes. Te assistia me esquecer, permanecendo na plateia com medo de que, caso eu parasse de assistir, eu seria esquecida. Veja, que paradoxo!

Então fiquei ali, vendo, vendo, vendo, permanecendo, cedendo, me transformando para caber num espaço cada vez menor de memória, até virar uma caixinha de uma lembrança bonitinha numa prateleira que era fácil revisitar sempre que sentia saudades.

Enquanto você me esquecia, eu lembrava de você. Te lembrava de lembrar de mim. Fazia o trabalho por você, o de cuidar de você, o de fazer você se lembrar de você tanto, que não havia lembranças pra mim, nem dentro de mim mesma. 

Eu facilitei tanto para você, não é? Você não teve trabalho algum. Ficou fácil quando num lapso de tortura masoquista em que te pedi um beijo, o mais banal e simples deles que deveria ser uma manifestação natural de desejo, me fez perceber que havia uma voz dentro que ecoava e implorava por um basta. Aquilo não tinha que ser pedido. Não era assim que eu tinha que ser lembrada. Quando é preciso lembrar que algo seja natural, é porque já está artificial demais.

A gente não precisa lembrar ninguém de lembrar da gente.

Ouvi essa voz que constantemente eu silenciava, pedia para ter um pouco mais de paciência, mas dessa vez, cansada e triste demais para exigir o natural, perguntou da forma mais honesta que podia se eu era uma escolha. Eu não era. Houve rodeios, houve tentativas de disfarçar, mas eu não era. Eu não era lembrada, eu era uma lembrança.

Ouvir isso em voz alta fez a voz ter certeza do que ela já me avisava há tempos. E a dor de ela estar certa, de que eu havia feito tanto esforço quando já era só uma lembrança foi como me chicotear inúmeras vezes. E sabe o que mais dói? Você viu que eu estava me chicoteado e em momento nenhum você impediu ou disse que não precisava mais. Acho que mesmo me vendo me chicoteado você não tinha o trabalho de me dar minha liberdade enquanto você vivência a a sua já.

E meu senso de justiça é um valor tão intrínseco que me escapa pelos poros. Sentir que cometi uma injustiça comigo dói mais até do que a injustiça que você cometeu comigo - e olha que essa dói muito também porque achava que você era mais corajoso para arrancar chicotes. Esse valor era meu refletido em você. Espero que tenha aprendido também.

E agora eu estou decidindo por largar o chicote, mesmo com medo, porque apesar de ser um lugar que eu conheço, sentir dor ainda é dor, por mais que você já saiba como vai doer. E é preferível mergulhar no desconhecido do que continuar a ocupar um espaço pequeno.

Dói ter que sair daqui, mas eu não preciso mais ser uma lembrança. Eu posso ser lembrada. E eu preciso me lembrar de mim.

setembro 05, 2022 No comentários
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Olá, sou a Lari e tenho 27 anos - e há mais de quinze anos escrevo algumas coisinhas para internet. Sou formada em Relações Públicas e trabalho com marketing de influência. Adoro consumir cultura e divulgar dicas por aí.

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