permita-me te apresentar

querido raio de sol, 

primeiramente, permita-me ter a licença poética - e bastante brega, talvez - de traduzir para português o apelido que acredito ter sido criado por mim, há bons anos, para me referir a você. ele foi baseado no seu sobrenome e espero que esteja esboçando um sorriso desde o começo dessa carta - que te encontre bem.

pensei por horas e horas como poderia começar a te presentear e, sim, consegui alguns itens materiais que vão ser entregues a ti porque você merece, fique tranquilo, mas além deles, eu queria te oferecer algo que fosse unicamente sobre nossa amizade e, bem, obviamente sobre você.

pensei, pesquisei, olhei referências até que tive uma ajudinha sua com um ímpeto de que, o melhor que eu posso oferecer é me debulhar em palavras. e resolvi registrá-las aqui, já que como bom amigo que você é, talvez seja o único leitor assíduo desse falido blog que virou um portal de lembranças.

então, cá estou com uma xícara de café coado bebericando uma porção de nostalgia enquanto penso em você, amigo, então me permita dizer algumas coisas.

quando te conheci, há um bocado de anos, tive a rara oportunidade de ir além da capa do livro que era oferecido a todos: levemente bad boy, humor ácido, mau humorado, irônico e bastante esquentadinho. confesso que seria mais fácil ter me prendido à imagem de que você era só o garoto que namorou uma garota que eu conhecia bastante e era esquentadinho o suficiente para ouvir metal e quebrar janelas por aí, mas você sabe que eu não brinco no raso e você também não.

desde lá, quando você era um furtivo com franja que lhe caía sobre os olhos e escondia metade do seu rosto e eu, uma garota magrela com cabelos alisados e insegura, nós encontramos nossas similaridades. primeiramente música, problemas escolares, amizades, depois corações partidos. com o tempo, você já não fazia mais tanta questão de ficar somente no humor ácido que, aos poucos, vieram acompanhados de abraços que cobriam minha cabeça e sorrisos largos dizendo que tudo era brincadeira.

mais tarde, nossas conversas se iniciavam sempre com um apelido breve, simples, mas bem carinhoso. moça. e falávamos sobre os próximos shows, festivais, sobre pé-na-bunda e possíveis novos romances. e tirava sarro de mim como se eu fosse sua irmã e eu cutucava a onça com vara curta como só eu sei fazer, o que rendia uma porção de caretas e dedos do meio estendidos, dos dois lados.

em nossa essência, talvez não tenha mudado tanta coisa, mas as abordagens hoje são benefícios de usar cartão de crédito, como compras no mercado são caras e como lidar com as inseguranças mais profundas. continuamos conseguindo conversar sobre qualquer tópico, mas eu consigo ver que, agora, aos poucos você tem conseguido deixar que as pessoas leiam o livro além da capa, como eu também fiz.



o problema de termos capas tão bonitas e bem feitas, é que no fundo, a gente tem medo que não gostem tanto do conteúdo do livro. imagina só, julgarem a obra apenas pela capa, exatamente como você fez tantas outras vezes? imagina só, perceberem que não foram injustos com você? ou, olha que coisa, talvez descobrirem que o livro é muito mais legal do que a capa?

o problema de não gostar de brincar no raso, é que brincando no fundo, dá um pouco de medo de não dar pé, de afogar, de faltar ar, de cansar e até de faltar um pouco de luz porquê, vai que o sol não chega lá. mas é aí que mora a graça do seu apelido. quem carrega em si raio de sol, não fica no escuro por muito tempo, não é?

posso dizer, por experiência própria, que você não deixa o escuro perdurar. quando eu resolvi que precisava mergulhar no fundo, onde ficava um pouco mais difícil enxergar, você não se importou de me ajudar a voltar pra superfície para respirar um pouco. e é isso que talvez eu sempre tenha enxergado em você, por trás de toda capa dura e bem formatada.

sempre esteve contigo a capacidade de fazer as pessoas rirem com tanta vontade a ponto da cabeça tombar para trás e emitirem sons estranhos no meio da gargalhada. também sempre esteve contigo os braços longos e esguios capazes de fazer a gente sentir que é capaz de aguentar qualquer coisa, até enfrentar apocalipse zumbi - que você adora falar que correria mais rápido que todo mundo e deixaria todo mundo pra trás, mas nós dois sabemos que é a maior mentira já contada. você mataria todos eles dando alguma equação impossível de ser resolvida e daria tempo de todo mundo fugir.

é bonito poder assistir à coragem dos outros. daqui te vejo corajoso, mesmo com medo de cansar, você quer mergulhar fundo porque sabe que é o único jeito de conseguir se livrar das amarras e desencalhar. daqui, continuo te vendo e admirando cada mergulho. espero que permita que mais pessoas mergulhem junto com você porque tua atlantis é um reino incrível - não seria eu, sem uma analogia à animações.

não posso garantir que todos gostarão do livro, mas posso garantir que vale a pena permitir que mais gente leia. não decida se as pessoas vão gostar ou não da história, mas permita que elas leiam e decidam. o livro não vai ser menos interessante se alguém não gostar - e se não gostar, devo dizer que tem um péssimo gosto literário, diga-se de passagem.

estarei aqui para ler cada página e para ajudar em cada mergulho. obrigada por me permitir ir além da capa e por sair do raso.

feliz aniversário. te amo.

com amor,

moça.

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