Eu Nunca Fui Rebelde


Muito menos imprudente. De fato, não me recordo com facilidade de um único momento em que eu de fato infringi profundamente regras - ou até mesmo leis. Eu preciso investigar, lá do fundo da memória, para perceber momentos em que eu fiquei muito bêbada ou beijei quem não deveria - e normalmente ao me recordar deles, sinto vergonha e acima de tudo, sinto culpa.
Para mim, sempre foi importante estar certa - em opiniões que são politicamente corretas, em sorrir, em ser uma boa garota. Sempre estar bem vestida, bem-educada. Sempre estar bem. E veja, isso tem sim pontos positivos porque é graças toda essa necessidade de ser correta que comecei a ter consciência de classe, ser empática, não querer magoar ninguém, mas à níveis pessoais esse desequilíbrio em sempre precisar ser sólida e consistente deixa um bocado de confusões.

As limitações impostas - por outros e por mim mesma - atingem um nível de profundidade que parece ser um oceano inteiro, por mais brega que isso soe - viu só, o julgamento nem precisa vir de você pois eu o faço antes. Depois de boas sessões de análise cá estou navegando pelo mar tentando quebrar as barreiras que lá foram colocadas e por mim reforçadas.

Diversos conteúdos sobre autocuidado são compartilhados na internet, mas ainda pouco se fala sobre como é um processo confuso, doloroso e cheio de chateações. É necessário que você perca fé em várias crenças, convicções para começar a ter fé em si mesmo, é preciso abrir mão de boa parte do seu ego, é cheio de deboche e muitas vezes você se sente ridículo e bobo - pois é assim que eu estou ao escrever esse texto.

Passei - e ainda passo - muito tempo pensando em carreira e nos meus objetivos profissionais e em algum lugar ali no meio do caminho eu me convenci de que eu não deveria sonhar. Sonhar pra que se não vai conseguir? - sim, doeu bastante falar isso em voz alta - Não é melhor se poupar de mais uma frustração?

Eu por exemplo sempre quis ir pra França, mas nos últimos tempos que me peguei pensando nisso imediatamente me ocorreu "ora, pois deixe de ser ridícula, nem falar francês você sabe! O Duolingo te cobra toda semana pra você sair do 'la pomme est rouge'!" ou algo como "ai que linda, mas já viu o preço do euro bonitinha? É isso mesmo, não vai rolar".

Ser sempre correta me faz querer fazer um check-list mental antes de me permitir sonhar com alguma coisa. Antes de me visualizar comendo croissant eu coloco um monte de metas para me permitir pensar nele - faz sentido? É um processo muito complexo até mesmo para tentar explicar como funciona.

O ponto é que a grande questão dos sonhos é que eles não precisam ser presos à minha realidade. Nem todo sonho precisa ser uma meta a ser cumprida.

"Você pode se imaginar em Marte e não precisa pensar como você vai respirar lá, ou como vai comer lá".

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